"É quase certo que essa dança tinha conexões com ritos de fertilidade e também com alguns movimentos feitos durante o parto, para ajudar no nascimento da criança." De qualquer forma, foi no Egito que essa forma mais primitiva da dança do ventre ganhou sofisticação, para depois se tornar parte da cultura árabe, na qual é conhecida como Raqs Al Baladi ("Dança do Povo"). É o jeito comum de as pessoas dançarem e acontece em praticamente todos os encontros sociais importantes.
Nos casamentos, a presença de uma dançarina é mais do que desejável. "Ela dança para entreter os convidados, mas também tem que posar para fotos ao lado da noiva e do noivo. Depois, o casal coloca cada qual uma das mãos sobre o ventre da dançarina, como forma de garantir uma união frutificante", diz Buonaventura . A dança do ventre é feminina por excelência. "Os homens têm uma dança própria, sacudindo os ombros e os quadris, mas sem rebolados complexos como a das mulheres." Outro privilégio delas é o zagreet - aquele som ululante , emitido com voz aguda e entrecortada. "É uma forma de estímulo entre as dançarinas, uma demonstração de que está gostando do que a outra está fazendo", diz a especialista.
A dança do ventre ganhou visibilidade no Brasil na virada do século XXI. Apresentando-se como um misto de feminilidade e de religiosidade, essa dança conquistou muitas praticantes em nosso país, ganhando até status na novela O Clone, da Rede Globo de Televisão.
Ainda que se pense que a dança do ventre foi uma moda passageira no Brasil, isso não é verdade. O Brasil tem algumas das melhores bailarinas de dança do ventre do mundo, e elas se apresentam aqui no Brasil e também no exterior: Lulu Sabongi, Shahar e Soraia Zaied ensinam e mostram a arte da dança do ventre na cidade de São Paulo desde a década de 1980.
Há um mito de origem sobre a dança do ventre bastante bonito. Diz-se que surgiu no Egito, em uma época marcada pelo matriarcado, e que a dança era um meio de expressar o agradecimento à Deusa Afrodite pela fertilidade da terra e das mulheres. Infelizmente, sabe-se que isso não corresponde à verdade, pois a História nunca encontrou indícios de grupos matriarcais. Mas o fato é que a dança do ventre é tradicionalmente transmitida em grande parte do Oriente Médio: a mãe ensinando a filha e o costume da dança em família entre mulheres se perpetua até os dias de hoje.
Quando a dança ganhou popularidade no Brasil, algumas características eram vinculadas a ela, o que atraia ainda mais as mulheres para a prática:
1) acreditava-se que o exercício da dança do ventre estimulava a feminilidade nas praticantes;
2) que a prática da dança estimulava uma face da religiosidade feminina, estimulando o lado místico da mulher;
3) que como qualquer outro tipo de atividade física, traria benefícios ao corpo e à saúde. Independente de estimular o misticismo feminino, o fato é que a prática da dança do ventre traz, sim, muitos benefícios à saúde – quando praticada regularmente – e estimula, sim, a feminilidade, uma vez que os trejeitos utilizados na dança passam automaticamente aos trejeitos do dia a dia.
Os movimentos fundamentais da dança do ventre são: movimentos redondos; movimentos em oito; movimentos de mãos e braços; movimentos de cabeça; expressões faciais; movimentos para tremer algumas partes do corpo.
- Movimentos em oito: tomando-se o corpo como eixo do movimento, o quadril desenha um oito, tanto para direita quando para esquerda. Há também o oito em pé, em que o quadril é deslocado de cima para baixo e vice-versa. Esse último tipo de oito também é conhecido como “oito maia”;
- Os movimentos de braços e de mãos são marcados pela delicadeza e pela leveza;
- Movimentos de cabeça são, geralmente, marcados pelo deslocamento lateral, tanto para a direita quanto para a esquerda;
- As expressões faciais são fundamentais para que a bailarina expresse seus sentimentos: tristeza, alegria e sensualidade são as expressões mais comuns na dança;
- Movimentos de tremer talvez sejam os mais conhecidos. O “shimmy” é uma técnica corporal utilizada para tremer o abdômen, o peitoral, e as pernas.
Um último detalhe a ser lembrado é que há duas vertentes diferentes sobre o modo como a dança do ventre deve ser dançada: existe uma linha de pensamento que acredita que a dança surge na bailarina de acordo com o seu estado de espírito; outras bailarinas dançam a partir de uma coreografia previamente ensaiada.
Dr° Sérgio Eduardo
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