Da Reconquista ou Reconquista Cristã, nomes pelas quais ficaram conhecidas as campanhas militares contra os exércitos árabes que ocuparam a quase totalidade do território da Península Ibérica, surgiu o Reino de Portugal.
Com início no século VIII, as batalhas pelas terras ibéricas têm inicio quando os visigodos cristãos, liderados por Pelágio, decidem enfrentar os muçulmanos numa tentativa de recuperação dos territórios perdidos aquando da invasão das hordas árabes por volta do ano 711.
Após as primeiras vitórias, a norte da península, começam as ser fundados vários reinos cristãos, nomeadamente o das Astúrias, o de Leão e o de Navarra. No entanto, as discórdias entre os chefes cristãos resultariam num enfraquecimento que seria aproveitado pelos árabes para voltarem a ocupar territórios antes perdidos. Destes avanços e recuos resulta a morosidade e a complexidade do processo da Reconquista.
Seria só no século XI que os cristãos voltariam a ter poder de iniciativa. Pela mão de Fernando I, Rei de Leão e Castela (reino fundado como resultado das disputas entre os próprios cristãos), voltam para o seu controlo uma importante quantidade de territórios, entre os quais Coimbra, alargando assim definitivamente os limites da Reconquista até ao Mondego. Este monarca desenvolveu o território entre o Douro e Mondego, o qual aparece designado por Portucale, o condado que viria a dar origem ao reino independente de Portugal, fundado por Afonso Henriques no século XII depois uma disputa com a sua própria mãe, Dona Teresa.
A Batalha de São Mamede – Guimarães, que ocorreu em 24 de Junho de 1128 e que opôs as tropas de D. Teresa e do conde galego Fernão Peres de Trava às do seu filho e da qual Dom Afonso Henriques acabaria por sair vitorioso, é o marco histórico que consolida a vontade do jovem cavaleiro de fundar um estado independente.
A partir dessa data, Dom Afonso Henriques inicia, ele próprio, a sua própria Reconquista, enfrentando e vencendo os árabes na luta por muitas das cidades que constituem actualmente o território nacional.
No entanto, Dom Afonso Henriques, ou Afonso I, Rei de Portugal, teria de se preocupar também com as constantes investidas do Rei de Leão e Castela, Afonso VII, que nunca se conformou com a perca das terras portuguesas, o que viria a dificultar e a atrasar consideravelmente a luta contra os exércitos muçulmanos.
Só em 1143, na Conferência de Zamora, Afonso VII viria a reconhecer Dom Afonso Henriques como legítimo Rei de Portugal, deixando espaço ao monarca lusitano para alargar o território do novo país.
Conquistou-se Santarém, Lisboa, Palmela, Almada, Alcácer do Sal, Évora e Beja, levando muito para sul os limites de Portugal. Dom Afonso Henriques, Afonso I de Portugal, morreria em 1185, deixando a seu filho, D. Sancho I, a tarefa de consolidar e alargar as fronteiras do reino, um processo que viria a terminar mais de um século depois quando Afonso III conquistou definitivamente a cidade de Silves e com ela o território do Algarve.
Seguem-se anos de luta pelos territórios do Alentejo e do Algarve entre Portugal e Castela, até que, em 1297, pela mão de Dom Dinis, Portugal estabelece as suas fronteiras definitivas com o Tratado de Alcanises, limites que perduram até à actualidade e que fazem do país o estado mais antigo da Europa.
Entretanto, segundo algumas correntes históricas, o processo da Reconquista viria a ser ressuscitado aquando da expansão marítima portuguesa que foi precedida da conquista de várias praças fortes do norte de África. Esta linha de pensamento vê a expansão marítima e a constituição do Império de Portugal como um recomeço da Reconquista iniciada vários séculos antes no território da Península Ibérica, alargada agora a um espaço bastante mais amplo.
Dra° Patricia Martins
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