25 de out. de 2011

Serpentes


 A 35 quilômetros do litoral sul de São Paulo, perto de Peruíbe, a ilha de Queimada Grande atrai cientistas do mundo inteiro. Ali vive, em temível profusão, a letal jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), espécie que registra uma porcentagem muito alta do fenômeno da intersexualidade: a maioria das fêmeas apresenta o órgão reprodutor masculino. A jararaca-ilhoa é extremamente venenosa e, na ausência de roedores, vive de olho nos pássaros. Ela atinge um metro de comprimento e tem uma cor amarelada. Na ilha, com 1,5 quilômetro de norte a sul e 500 metros de leste a oeste, as cerca de três mil jararacas-ilhoas dividem seu reinado com apenas outra espécie de cobra, a dormideira, que não é venenosa.
 Entre o perigo e o mito

 Existem no Brasil 60 espécies de cobras venenosas, mas são as jararacas as responsáveis pelo maior número de ataques - cerca de 85% do total. As cascavéis, com o característico chocalho na extremidade da cauda, e as surucucus, que atingem o comprimento máximo de 4,5 metros, causam pouco mais de 10% dos acidentes. As corais, apesar da fama de perigosas, precisam ser muito provocadas ou pisoteadas para dar o bote. Elas respondem por menos de 1% das ocorrências e são facilmente confundidas com as falsas corais, suas primas inofensivas. O veneno de todas essas serpentes pode matar uma pessoa em pouco tempo. A reação à picada vai depender de variáveis como a parte do corpo que foi atingida, quantidade de veneno injetada, peso da vítima e o tipo de cobra. Por isso, especialistas do Butantan recomendam às vítimas que recebam o soro o mais rápido possível, de preferência nas primeiras três horas após o ataque. Além das cobras, outros animais peçonhentos comuns no Brasil são aranhas, escorpiões e taturanas. Há milhares de espécies, mas poucas oferecem risco mais sério ao homem.

Entre as aranhas, a mais perigosa é a Loxosceles, também conhecida como aranha marrom. Com cerca de três centímetros de tamanho, ela causa em suas vítimas sensação de queimadura e formação de ferida no local da picada. As caranguejeiras, apesar dos grandes ferrões, têm o veneno pouco ativo. E as folclóricas viúvas-negras, com manchas vermelhas no abdome, são pouco encontradas aqui. Os escorpiões amarelos e pretos estão entre os dois tipos mais venenosos - um ataque pode ser fatal, principalmente em crianças. A taturana da espécie Lonomia obliqua tem espinhos que, em contato com a pele humana, chegam a provocar hemorragias internas, parada do funcionamento dos rins e a morte.

O atendimento a esses e outros casos é feito 24 horas no Hospital Vital Brazil, que funciona dentro do próprio
Instituto Butantan, com tratamento gratuito. Os soros produzidos pelo Instituto são distribuídos a hospitais, casas de saúde e postos de atendimento médico de todo o país.

Surucucu
(Lachesis muta)


Cascavel
(Crotalus durissus)
A maior cobra venenosa da América do Sul, chegando a medir, quando adulta, 4,5 m. Encontrada na Floresta Amazônica e Mata Atlântica. Responsável por cerca de 3% dos acidentes. Outras denominações: pico-de-jaca, surucutinga, surucucu- de-fogo, surucucu pico-de-jaca.










Possui chocalho na ponta da cauda e chega a medir 1,6 m de comprimento. Preferem os campos abertos e regiões secas e pedregosas. Responsáveis por 8% dos acidentes ofídicos que ocorrem no País. Outras denominações: boicininga, maracabóia e maracambóia.
  
Jararaca (Bothrops jararaca) e Jararaca Pintada (Bothrops neuwiedi)

    Sua cauda é lisa. Quando adulta, seu tamanho varia entre 40 cm a 2 m. Existem mais de 30 variedades que apresentam diferentes cores e desenhos. São encontradas em todo o País e responsáveis por 88% dos acidentes registrados. Outras denominações: caiçaca, jararacuçu, cotiara, cruzeira, urutu, jararaca-do-rabo-branco, surucucurana.


  
Corais (Micrurus corallinus e Micrurus frontalis)
    Encontradas em todo o País, têm hábitos noturnos e praticam o canibalismo. Durante o dia descansam. Responsáveis por apenas 1% dos acidentes registrados. A coral é considerada a mais perigosa do Brasil, seu veneno age no sistema nervoso e pode levar uma pessoa a morte em poucos minutos. Outras denominações: coral verdadeira e ibiboboca.
    Menos de 30% das cobras conhecidas no País são venenosas. As 70 espécies, divididas em dois grupos - Crotalíneos (Jararaca, Cascavel e Surucucu) e Elapíneos (Coral verdadeira) -, fazem perto de 20 mil vítimas por ano.






Nos serpentários mantêm-se cobras para exibição ao público. Vale a pena a visita!
Em biotério especial, outras são mantidas para pesquisa e extração de venenos.


FOTOS








Esta espécie de falsa coral não faz parte da fauna nativa. Mas tem sido encontrada em vários pontos da região metropolitana

Jararaca: espécie mais comum
 

NOTÍCIAS

 Butantan prepara mapeamento da distribuição de cobras em SP e PR
 
Pesquisa pretende otimizar o atendimento a vítimas SALVADOR NOGUEIRA
 FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando a tarefa é fazer um estudo da distribuição das populações de serpentes peçonhentas em São Paulo e no Paraná, é recomendável contar com verdadeiros "cobras" no assunto. Nada mais natural, assim, do que confiar a missão a um grupo do Instituto Butantan, da capital paulista.
O estudo, que faz parte do programa Vigisus (Vigilância Epidemiológica no Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde, combinará três categorias de dados e produzirá mapas detalhados da distribuição das serpentes venenosas nos dois Estados.

"A idéia é combinar as informações com as ocorrências de acidentes ofídicos, a distribuição das serpentes e as alterações ambientais", diz Hui Wen Fan, diretora do Hospital Vital Brasil, do Butantan, onde é a responsável pela coordenação do trabalho, que já está em andamento há seis meses.
Ela apresentou o trabalho anteontem, durante o 6º Simpósio de Herpetologia, no próprio Butantan. Quando concluído, em julho, o levantamento contará com estatísticas que vão de 1988 a 1997.
O objetivo final do projeto é auxiliar os responsáveis pelo planejamento de sistemas de saúde a dirigir seus esforços para regiões potencialmente mais perigosas, distribuindo o soro com mais eficiência, treinando profissionais para pronto-atendimento nos locais em que eles são mais necessários e desenvolvendo programas de prevenção.

Embora o Butantan seja o responsável pela coordenação e pela execução do projeto, o trabalho de coleta de dados envolve também outras instituições. O Instituto Florestal (SP) está encarregado de fornecer dados dos fatores ambientais (principalmente indicando onde há mais ou menos vegetação nas diferentes regiões do Estado). Seu equivalente no Paraná é o Instituto Ambiental.
Já as secretarias de Saúde dos dois Estados fornecerão os dados sobre as ocorrências registradas de picadas de cobra. Esses chamados acidentes ofídicos ocorrem em média 1.500 vezes por ano. O maior número de casos envolve serpentes do gênero Bothrops, mais conhecido como jararaca.
A distribuição das populações de serpentes serão feitas com base nas cobras que o Instituto Butantan recebe. "As pessoas que acham serpentes normalmente as trazem para cá. Muitos dos que sofrem picadas trazem o animal junto", conta Fan. Ela não considera possível fazer trabalho de campo na contagem dos animais. "É muito difícil fazer um censo." O projeto, cujo custo total é de US$ 60 mil, está sendo bancado pelo Banco Mundial.
Fonte: Folha de São Paulo - 11 de Fevereiro de 2001

Dr° Rick Júnior

0 comentários

Postar um comentário