Língua saburrosa |
É importante salientar que muitas pessoas que não têm halitose se preocupam exageradamente com seu hálito, enquanto boa parte das que realmente tem mau hálito não suspeita do fato. Até 25% das pessoas que procuram atendimento médico queixando-se de mau hálito, na verdade não o tem. É muito difícil para o indivíduo notar se o próprio hálito ruim é crônico ou aparece apenas pontualmente.
Causas do mau hálito
Existes mais quarenta causas diferentes para o mau hálito. Vamos focar apenas nas mais comuns.
Mais de 80% dos casos de halitose se originam na própria boca. São causados pela ação da flora bacteriana natural da nossa orofaringe sobre os alimentos que ingerimos. Possuímos mais de 600 tipos de bactérias na nossa cavidade oral, muitas delas capazes de produzir gases com odor devido à metabolização de materiais orgânicos, principalmente proteínas.
Dois pontos da cavidade oral são críticos: os dentes e a região posterior da língua, onde frequentemente ocorrem acúmulo da bactérias. O cheiro da halitose provém da produção de gases por bactérias após a metabolização de alimentos que ficam depositados nestas regiões.
Como é previsível, quanto menor for higiene bucal, mais bactérias existirão, mais detritos alimentares permanecerão na cavidade oral e mais intenso será o mau hálito. Inflamações como gengivites e periodontites, causadas por má higine oral, também favorecem a halitose.
A saliva é uma anti-séptico bucal natural. Além de possuir substâncias antibacterianas, ela ajuda no enxague da orofaringe, diminuindo os resíduos de bactérias e alimentos. Quanto mais ressecada for a boca, pior é o hálito.
A saburra lingual, ou língua saburrosa, é outra causa comum de mau hálito. Esta alteração se manifesta como uma placa esbranquiçada composta por bactérias e células descamadas que se aderem à língua. A saburra costuma surgir por falta de hidratação na cavidade oral, geralmente por falta de saliva ou por uma deficiente escovação da língua. Entre outros fatores de risco para a saburra estão dormir de boca aberta, roncar, uso de antissépticos bucais à base de álcool e uso de aparelhos ortodônticos. Escovar a língua e beber bastante água para manter a boca sempre hidratada são simples modos de diminuir a incidência da saburra e, consequentemente, do mau hálito.
Ainda na boca, outro ponto que pode dar origem ao mau hálito são as amígdalas. Um mau hálito que surge subitamente pode ser o primeiro sinal de um faringite ou amigdalite em desenvolvimento. Isto é particularmente real nas crianças.
Os pacientes com amigdalite de repetição costumam apresentar pequenas criptas em suas amígdalas, que favorecem a deposição de alimentos e de restos celulares, formando o cáseo (ou caseum). De vez em quando pequenas "pedrinhas" extremamente mal cheirosas se soltam destas criptas levando o paciente a imaginar que o seu hálito é tão ruim quanto este odor. Na verdade, nem sempre o cáseo amigdaliano é causa de mau hálito. O fato da "pedrinha" ser mau cheirosa não significa que o hálito seja igual. (leia: DOR DE GARGANTA - FARINGITE E AMIGDALITE ).
Outro sítio que pode ser a causa da halitose é o nariz, ocorrendo principalmente devido a quadros de sinusite. A existência de gotejamento pós-nasal pode levar ao acúmulo de substâncias mal cheirosas na base da língua (leia: SINUSITE | Sintomas e tratamento).
Muito raramente, um tumor oculto da orofaringe ou laringe pode ser a causa do mau cheiro.
Um tipo de mau hálito extremamente comum e normalmente passageiro é aquele que ocorre ao acordarmos. Dois fatos contribuem para essa halitose:
1. Muitas pessoas dormem de boca aberta, levando a um ressecamento da boca durante a noite que, como já foi explicado anteriormente, leva ao mau hálito.
2. Porém, o fator mais importante é outro. Durante o sono, chegamos a ficar mais de 10 horas em jejum. O corpo precisa produzir energia constantemente e em períodos de jejum há pouca glicose disponível como combustível. O organismo passa então a queimar gorduras para produzir energia. A metabolização de gorduras leva à produção de corpos cetônicos, substâncias com odor forte que são eliminadas pelos pulmões. Reparem que toda vez que estamos com muita fome, ou em longos períodos de jejum, ficamos com mau hálito. Felizmente este é fácil de resolver; é só comer.
O hálito cetônico do jejum é o mesmo que ocorre nos pacientes com diabetes mal controlados (leia: DIAGNÓSTICO E SINTOMAS DO DIABETES MELLITUS para maiores explicações).
Outras doenças sistêmicas que podem causar mau hálito são a cirrose (leia: CIRROSE HEPÁTICA | Sintomas e causas) e a insuficiência renal avançada. Esta última causa um hálito com cheiro de urina devido ao acúmulo de uréia e outras substâncias que não são devidamente eliminadas pelos rins (leia: INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA). Infecções nos pulmões também podem causar halitose.
Costuma-se supervalorizar o papel do estômago na halitose, todavia, raramente doenças deste são causas do mau hálito. A exceção ocorre no pacientes com refluxo gastroesofágico que podem ,em alguns casos, apresentar halitose (leia: HÉRNIA DE HIATO E REFLUXO GASTROESOFÁGICO). Porém, não se justifica uma investigação do estômago se o paciente apresentar mau hálito sem outros sintomas do refluxo.
Nossos hábitos diários também influenciam no hálito. O tabagismo, o consumo regular de bebidas alcoólicas e excesso de café são causas de mau hálito. Existe também uma relação ainda pouco entendida entre obesidade e halitose.
Alguns alimentos como alho e cebola são capazes de causar mau hálito por várias horas. No caso do alho, um dos gases produzidos pela sua digestão consegue ser absorvido pela circulação sanguínea, sendo eliminado pelos pulmões. Por isso, após a ingestão de alho, o hálito ruim pode permanecer por horas mesmo após a escovação dos dentes.
Tratamento do mau hálito
Como a grande maioria dos casos têm origem na boca, o dentista costuma ser o melhor especialista para diagnosticar e tratar a halitose. Já o otorrinolaringologista pode ser o melhor médico nos casos de mau hálito originado nas amígdalas, faringe ou nariz.
Algumas dicas podem resolver, ou pelo menos aliviar o problema:
- Adequada higiene oral e uso frequente de fio dental.
- Check-up dental regular.
- Gargarejos com anti-sépticos orais, principalmente à noite.
- Escovação da língua. Molhe sua escova com anti-sépticos orais em vez de pasta de dente (dentífrico) para limpar a língua.
- Ingestão de líquidos para evitar desidratação e ressecamento da boca.
- Chicletes sem açúcar aumentam a salivação e ajudam a "lavar" a boca. Cinco minutos de mastigação são suficientes.
- Evitar álcool, café e cigarro.
- Evitar longos períodos de jejum.
- Alimentar-se bem no café da manhã.
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