Mas, ao ser condenada como se fosse droga, a folha de coca permitiu o surgimento de um dos movimentos sociais mais vigorosos da história boliviana. O movimento cocalero - pequenos produtores rurais que vivem da produção da folha de coca para os mercados tradicionais – politizou a questão da coca, questionou frontalmente o papel submisso dos governos bolivianos de então que abraçaram quase sem questionamentos as políticas anti-drogas traçadas em Washington D.C. – que consideram mais fácil combater o narcotráfico promovendo o extermínio da matéria prima num país frágil política e economicamente do que refletindo internamente sobre seu papel como maior centro consumidor das mais diversas drogas e entorpecentes – e, acima de tudo, politizou o tema cultural: o extermínio da folha de coca significaria o extermínio da cultura andina; o extermínio de quechuas e aymaras em sua cosmovisão, em sua própria concepção de mundo.
O movimento cocalero assumia, assim, a condição de protagonista político. Reafirmava o direito soberano de bolivianos e bolivianas, quechuas e aymaras ou não, de manterem vivas suas tradições culturais. E sua luta alcançou tamanha força que foi capaz de criar uma liderança vinda das bases e que alçou a inédita posição de primeiro presidente indígena do mais indígena dos países sul-americanos. Gostemos ou não de Evo Morales Ayma e de suas políticas, não podemos jamais deixar de reconhecer a importância de sua presença à frente da presidência da Bolívia. Um começo para a verdadeira independência desse grande país.
Dra° Patricia Martins
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